Praia de Santa Cruz, 12 de Março de 2016
Lembro-me que neste dia, nesta calma tarde de sol, amena, na
praia de Santa Cruz estava triste, isso eu sei. Na noite anterior tinha tido um
aborrecimento com a mulher que amo.
Aceitei o convite do meu amigo Zé e aproveitamos a
oportunidade para passear e conversar um pouco junto ao mar. Há muito que não
me sentia tão calmo e ao mesmo tempo tão desgostoso.
É mesmo difícil transpor um sentimento quebrado, uma mágoa,
uma fútil incompreensão.
Não sei o que estaria a pensar naquele momento quando me
sentei no muro de proteção do declive da falésia. Sei que fumava mais um
cigarro, como habitual e o meu amigo, amante de fotografia, aproveitou-se
daquela minha pausa e captou com a câmara do seu telemóvel esta minha pose
única.
Talvez pensaria no que fazer em relação ao que tinha
acontecido ontem à noite. Talvez pensaria em desistir de tudo e acabar de vez
com aquele amor, com aquela relação instável, com aquela incerteza contínua que
me abalava psicologicamente.
Não gosto de incertezas, desconfianças, mal-entendidos.
Também, quem gosta?
Para mim, a vida tem que ser objetiva, pois gosto de metas,
gosto de ter objetivos para alcançar. Não gosto de viver à deriva, como um
náufrago perdido na imensidão do oceano.
Eu tenho e sempre tive a convicção de que quem ama de
verdade, faz tudo para agradar a pessoa amada, esse “fazer tudo” é por si mesmo
sinónimo de prazer. Quando se vê e se sente que a pessoa amada é feliz por
aquilo que fazemos por ela, sentimo-nos realizados, orgulhosos do propósito dos
atos produzidos, alegres e subscrevendo de uma generosa e compensadora paz
interior. Não era isso que sentia naquele momento com certeza.
Por amor nunca desisto de lutar, a não ser que ele, por
qualquer motivo forte, de mim se evade. Quando amo dou tudo de mim. Quantas
vezes me esqueço em benefício da pessoa amada.
Agora, quando começo a sentir distância, descomprometimento,
ausência, agressão sentimental por parte dela, isso sim, é nefasto, tóxico e se
continuado esse tratamento, torna-se letal para qualquer amor.
Sei que sou um sentimental incorrigível e que por qualquer
palavra ou gesto insano, me firo instantaneamente e respondo de imediato ao ato
ou sílaba mal proferida, sei precisamente que sou assim. Sei que por vezes falo
sem pensar e agrido involuntariamente quem amo, mas sei igualmente que esses
comportamentos são muitas vezas, o resultado de muitas frustrações, deceções e
que constituem um acumulado de revolta instalado no subconsciente da minha
essência sentimental e frágil. Tudo isto contribui, de certa forma para
reforçar o que disse anteriormente sobre o que é nefasto e tóxico.
Numa relação de amor entre duas pessoas é preciso haver
muita vontade de compromisso. Abdicar de algumas coisas, exigir mutuamente
outras sem nunca interferir na personalidade e na liberdade individual, bem
como na sua privacidade. Toda a gente tem direito à sua privacidade, desde que
esta não interfira, direta ou indiretamente no compromisso ou na relação entre
os dois. Não bastam o respeito, a sinceridade (mesmo que esta contenha alguns
espinhos), a confiança, o carinho e a dedicação, é preciso ter carácter
(virtude fundamental) e assumir de verdade uma relação de amor. Por outro lado,
mentir ou ocultar voluntariamente um facto, ato ou uma situação clandestina à
relação do compromisso é puro veneno e causará certamente desconfiança, e esta,
por muito esforço que se faça para voltar a ter, jamais será como da forma pura
inicial.
No entanto, aquela tarde de paz já faz parte da minha
história de vida e mais um ano se passou desde então.
Hoje, entre altos de baixos, vamos mantendo esse amor,
vivendo o dia a dia, com todas aquelas virtudes que citei.
Ainda não perdi a esperança do tal dia melhor, aquele dia em
que finalmente partilharemos uma vida a dois. Por enquanto ainda não me vai
faltando paciência de superar os desentendimentos e os problemas que surgem.
Vamos ver até quando o meu amor irá sobreviver…
José Adriano.

Sem comentários:
Enviar um comentário