Um dia uma voz sussurrou ao meu ouvido e disse-me que a minha vida teria mais interesse se me dedicasse à cultura do espiritualismo. Abdiquei então do pecado e do mundo carnal para me dedicar a Deus. Recolhi-me no refúgio que perfaz o incógnito e subscrevi a fé. Com vestes de crente fui ouvindo a voz do silêncio e alimentei a esperança de ser útil, inútil.
O tempo foi passando e as andorinhas, que em cada Primavera vinham, traziam com elas o esvoaçar gracioso da felicidade, escassa. E quando de novo partiam, deixavam atrás um rasto de saudade, que não passa.
Hoje, muitas luas depois da vertigem da minha juventude, perdida, observando o azul do céu e o vento que me beija o rosto, impávida e conformada no parapeito da janela da casa do Senhor. Reconheço que há escolhas e decisões que, quando tomadas por impulsos ou sonhos imaginários, condicionam o destino.
Pergunto, não a Deus mas a mim mesma, por que raio escolhi esta forma de viver. Como teria sido se tivesse optado pelo lado de lá? Do lado de cá já não oiço, nem ninguém me ouve. O mofo tomou conta do meu coração e o bolor, do resto meu exausto exterior...
J.A.

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